Os marcos de luzes e os marcos da glória de Deus




          Era fim de tarde, e eu corri das cocheiras pra casa o mais rápido que podia, tinha medo de estar só. Tinha uns seis ou sete anos de idade, e já queria ostentar mais coragem, mais independência, mais de tudo. Foi então que eu vi pela primeira vez a tal da lua de fogo.

          Fogo-fátuo é um fenômeno que ocorre sobre a superfície de lagos, pântanos ou até mesmo em cemitérios. Quando um corpo orgânico entra em decomposição, ocorre uma liberação de gás metano (CH4). Se em algum local houver condições de concentração do metano, o gás começará a se concentrar, e caso o clima esteja relativamente quente, ocorrerá uma explosão espontânea. Essa explosão resulta em uma chama azulada, de 2 a 3 metros de altura, com um barulho característico. Geralmente, quando uma pessoa se depara com o fogo-fátuo, se assusta e sai correndo. Isso faz com que o ar se desloque e dá-lhe a impressão de que está sendo perseguida pelo fogo. E foi assim comigo. Oh moleque!

          Algumas noites antes desse episódio, eu havia ouvido alguns causos assustadores, e também a respeito da assombração da lua de fogo. Temendo que me tomassem por medroso, supersticioso ou qualquer coisa assim, mantive segredo sobre a minha experiência assombrosa durante uns dois ou três anos.

         Muito tempo depois, vi outro fenômeno da natureza que me causou impacto. A aurora polar é um fenômeno óptico, composto de um brilho observado nos céus noturnos nas regiões polares. Ela acontece por causa do impacto entre partículas de vento solar e a poeira espacial encontrada na via láctea com a alta atmosfera da Terra, canalizadas pelo campo magnético terrestre. Em latitudes do hemisfério norte é conhecido como aurora boreal. Ontem eu vi uma filmagem desse fenômeno. Lembrei-me de quão maravilhado fiquei ao vê-lo quando menino.

          Essas lembranças são marcos que temos na formação do nosso caráter. São como monumentos erigidos para marcar um evento na vida. Lembrei de como foi marcante e maravilhoso conhecer a Jesus e ser usado por ele espalhando as boas novas de reconciliação com Deus. Logo me entristeci, pois percebi que muitas vezes tenho ido atrás de falsos brilhos de impactos e distrações que me desviam o olhar e me faz titubear. Ultimamente, tenho me sentido assim. Como Moisés que precisava esconder a cara pra que o povo não percebesse que o brilho de Deus desaparecia, eu também me escondo um pouco.

          Se desviarmos o olhar do brilho (glória) de Deus, certamente perderemos o senso de direção, quer na poeira da estrada quer nas diversas luzes que brilham ao nosso redor. Umas causam espanto, outras, medo.

          Recebi de um grande amigo, leitor assíduo das Ataduras e Unguento, um recado extremamente carinhoso. Esse recado do Marcos me lembrou de alguns marcos que me ajudam ver a direção de Deus no meu caminho. Em poucas palavras, me alegrei por causa do amigo:
Dileto irmão, 
Sinto falta das suas publicações!!!!
Acesso o site diariamente e há muito não há novo artigo.
Posso te ajudar? Posso ser um ombro para você? Posso ser um estimulador?
Estou à seu dispor.
Beijos em todos,

          O primeiro marco, e acima de todos, é a fidelidade. Sinto-me mais confuso quando não tenho certeza de que eu estou fazendo a coisa certa. Eu estou fazendo as escolhas certas? Eu estou investindo mesmo nas áreas mais estratégicas do Ministério? Estou rodeado de pessoas com diversas expectativas, mas o que Deus quer que eu faça? Preciso de um senso de dever. Não é que Deus precise de alguém como eu. Não é que Deus queira que eu seja o mais sábio. Nem o mais valente e nem o mais sagrado.

          O melhor que conseguimos para uma vocação extraordinária é sermos fiéis.
Outro marco é o senso da graça. O segredo do sucesso não reside em quem eu sou ou no que eu sei, nem mesmo no que eu desejaria ser ou saber. No final, o segredo para o sucesso do Ministério é a graça que vem de Deus e não de ninguém, para que ninguém se ensoberbeça.

          Estou aprendendo que preciso ser cuidadoso sobre o julgamento de minha utilidade em qualquer ministério determinado. Não sei onde ou como são os planos de Deus para o futuro. Nem devo ser muito rápido para tirar conclusões sobre o valor de qualquer obra feita.

          Vejo apenas rostos, não posso julgar os corações. Ao ouvir palavras de elogio ou crítica, preciso discernir a voz de condenação que queima dentro daqueles que ouvem o que prego e observam minha vida. Espero saber o que Deus está fazendo através de mim. Muitas vezes acho que sei o que Deus quer fazer, mas não saberei realmente, até ao dia em que Cristo o revelar.

          É por isso que o marco mais importante é a esperança. Devo ser realista na minha expectativa de Ministério, e confiante de que a recompensa virá depois. Ambos são críticos, porque o chamado ao Ministério é para apresentar o sofrimento, bem como eventual recompensa. O que era a verdade do mestre será a verdade do servo. Jesus sofreu e seus discípulos também. Se o rebanho sofre, simplesmente por seguirem a Cristo, quanto mais isso será verdade para aqueles que pastoreiam o rebanho? Para os pastores, o sofrimento não é o que surpreende, mas a sua fonte. Muitas vezes não é o mundo jogando pedras, mas o rebanho fazendo isso.

          Se a vida e Ministério na igreja não parece muito glorioso, às vezes, é porque a glória vem depois. Meu problema é que eu quero a glória agora. E porque eu a quero agora, sou tentado a barateá-la e me contentar com uma glória menor — elogios levianos ou talvez meia hora a mais de sono. Achamos que o problema é estarmos decepcionados com o Ministério, quando o problema real é que somos facilmente seduzidos.

          O apóstolo Paulo, escrevendo das lutas em seu próprio Ministério, observou que “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2Coríntios 4.17). Será que o significado dessa glória, que é tão luminosa, é que ele fará com que todos os nossos problemas cessem em comparação a ela? Não! É o dom de ouvir Cristo nos chamando pelo nome no último dia. É, no presente, não só o fato de ver Cristo em glória, mas de ver que nós somos um reflexo dessa glória.

          Acima de tudo, é o dom de ver a glória e a graça de Cristo refletidas ao longo dos anos de Ministério. Os marcos, fidelidade, graça e esperança trarão à luz toda a beleza, bênção e recompensa que agora está oculto de nossa vista.



Daniel

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