Não chores mais

No Woman, No Cry - No Woman, No Cry - No Woman, No Cry -No Woman, No Cry...
Bem que eu me lembro, da gente sentado ali na grama do aterro, sob o sol.
Ob-observando hipócritas disfarçados, rondando ao redor...
Amigos presos, amigos sumindo assim: prá nunca mais.
Tais recordações, retratos do mal em si. Melhor é deixar prá trás...
Não, não chore mais. Não, não chore mais
Bem que eu me lembro, da gente sentado ali na grama do aterro, sob o céu.
Ob-observando estrelas junto à fogueirinha de papel...
Quentar o frio e requentar o pão, e comer com você
Os pés de manhã, pisar o chão. Eu sei a barra de viver...
Mas, se Deus quiser! Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Não, não chores mais. Não, não chores mais...

          A canção de Marlei traduzida por Gil fala do tempo da ditadura no Brasil. Pede que o choro se acabe, mas sem Deus, vai ecoando em si mesmo sem nunca se acabar. Vejamos como parar de chorar pra sempre.

          Em setembro do ano passado, fui encorajado pelos Davis a escrever sobre o que Deus estava fazendo no meu coração. Foi o inicio do blog Ataduras e Unguento. Rapidamente minhas lágrimas e risadas foram postas ao trabalho, e, entre escritos e comentários, comecei a ver Deus tratar mais e mais da minha vida e da vida de algumas outras pessoas.

          Semana passada, vindo ao Japão, sobrevoei o Mar Vermelho. O piloto abaixou a aeronave e foi possível ver o local onde os hebreus teriam iniciado a travessia rumo à liberdade. Chorei intensamente por estar realizando esta minha primeira viagem missionária no Oriente. Foram lágrimas de felicidade. Naquele instante, lembrar da libertação do povo de Deus fazia, para mim, um paralelo à realização dessa viagem. Agradeci a Deus pelo sonho e pela graça de o Pai me conceder um pedido que fiz em oração. Em dezembro de 2013, junto com os Daviis (irmão e o Portela), oramos pedindo a Deus que mudasse a aparência de derrota que eu sentia. Ao retornar para os meus escritos, recebi um comunicado me convidando para substituir um pastor no Japão durante seus estudos. Como muitos dos Hebreus, eu também não achei que ia dar certo. Mas Deus operou minuciosamente no meu coração e também de no muitas outras pessoas.  

          Os filhos de Israel foram libertados da mão forte, opressiva do faraó. Com majestade cinematográfica, Deus os tirou do Egito, a terra de escravidão e opressão. Eles então começaram sua jornada com grandes esperanças e expectativas, em direção à terra prometida. 

         Depois de marcharem alguns dias, de repente pareciam impedidos em sua jornada. A Bíblia registra que eles acamparam à beira-mar. Na frente, o grande mar vermelho, em ambos os lados montanhas, e, por trás deles, Faraó e seu exército se aproximando rapidamente. Na superfície pareciam irremediavelmente presos pois, para todos os efeitos práticos, não havia como sair dali. No meio do caos e confusão, as pessoas vêm para Moisés e começam a gritar de medo e pavor. O povo reclamou com Moisés, que reclamou com Deus, dizendo: “O que você quer que eu faça? Eles estão se preparando para me apedrejar, o que você quer que eu faça?”

          Israel tinha confiança em Deus para sua libertação, mas não para as suas circunstâncias. Isto, porém, não é novidade. Davi desesperou e disse, “Morrerão um dia nas mãos de Saul”. Elias se escondeu em uma caverna e pediu para morrer (1Reis19.4). Se somos cristãos, podemos ter confiança que Deus nos salvará do pecado, mas muitas vezes não confiamos na maneira circunstancial que Deus usa para mostrar a sua glória. 

          A maioria das pessoas até acredita que Deus é poderoso. Muitos sobrevivem às dores da luta se apegando nessa verdade. Mas o que nos faz titubear e cair é a desconfiança do amor de Deus. No fundo do coração, resta a desconfiança de que Deus nos ama. Sério! Quer seja receber um diagnóstico de uma doença grave, falta de dinheiro, desemprego, ou ver os filhos optarem pelo erro ou perceber que há  rejeição ou descaso por parte do cônjuge, agimos como os filhos de Israel diante do Mar Vermelho e ante a aproximação do exército egípcio. Mesmo sendo libertados milagrosamente da escravidão, muitos, incluindo eu e os melhores dos santos, passamos a murmurar e reclamar de Deus.

          Os quarenta anos no deserto serviram para ensinar uma nação a confiar em Deus. Essa confiança exige trabalho. Não por necessidade, mas por expressão de gratidão. Como seria possível investir mais nessa expressão? Numa reunião de presbitério, durante o exame de um seminarista, um pastor se posicionou contra a ordenação do candidato ao ministério. Não por haver problemas com o bacharel, mas argumentava que não havia campo e nem dinheiro para sustentar o recém-formado. Oh moleque! Jesus Cristo, Filho de Deus, Rei dos Reis, Senhor de Senhores afirmou que “a ceara é grande e que são poucos os trabalhadores”.

          Almocei com um pastor na semana passada que já havia sido jubilado por seu presbitério no Japão, e depois de oito anos teve a sua jubilação revogada. Designaram-lhe pastor para três igrejas. O ancião de 88 anos de idade, acometido de câncer, sorriu e reafirmou a promessa que fizera há 57 anos. Serviria ao Senhor na fiel exposição da palavra em qualquer situação e tempo. Que maravilha ver um homem com essa disposição. Enquanto temos o fôlego de vida não há, nessa batalha espiritual de libertação do cativeiro, espaço para quem só quer sombra e água fresca. 

          O que precisamos fazer é levantar, parar de dormir e sermos preguiçosos! Pare de se vangloriar na sua aparente piedade; Pare de chafurdar na sua agonia e na dor do passado e siga em frente! Pare de curtir (como pimenta no óleo) a sua amargura e raiva e dê o primeiro passo! Pare sofrer no local onde você está e seja movido por Deus!

         
          Sobrevoando o Mar Vermelho, quase que me levantei para dançar como Miriam fez. Minha alegria é tanta que as dores de antes já nem parecem mais tão doloridas. Os campos estão brancos para a colheita e Deus está movendo o coração de homens, mulheres e crianças para usufruir da sua graça e do seu amor. O que eu quero fazer é me levantar e continuar a fazer as coisas que Deus me chamou pra fazer, as coisas que eu pedi a ele que me permitisse fazer.


Foto de Daniel Gomes - Mar Vermelho

Moisés respondeu ao povo: Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes nunca mais os tornarão a ver. O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis. Disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem.  E tu, levanta o teu bordão, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco. Eis que endurecerei o coração dos egípcios, para que vos sigam e entrem nele; serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavalarianos; e os egípcios saberão que eu sou o SENHOR, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavalarianos. Então, o Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou e passou para trás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles (Êxodo 14.3-19).
          Este trecho é uma promessa para quem se vê em alforria. É promessa pra mim. Sei que ainda não cheguei na Terra Prometida. Ainda não chegamos à Nova Jerusalém. Confiar no amor de Deus e no seu poder de libertação das suas amarras é aceitar as ataduras para aquilo que foi quebrantado. É aceitar o unguento para a ferida que arde. Lembrando que o amor de Deus lança fora de si todo o medo. Quando vir o inimigo se aproximar, ouça a voz de Deus que te ordena marchar.



Daniel




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