Cabra macho

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Conheci uma mulher que tem o terceiro maior nariz do mundo. Fui palestrante num acampamento no Rio de Janeiro. Logo no comecinho da minha primeira aula, deparei-me com a coisa. Obtuso, comprido (21 cm), o monumento nasal causava espanto. Por alguns segundos fiquei sem palavras, até que a nariguda me ajudou dizendo: “É grande não é?” – Concordei apenas chacoalhando a cabeça. “Pode crer pastor!” – continuou num dialeto carioca. Foi só então, depois de quebrar o gelo que pude iniciar minha palestra. Nas conversas durante a semana, rimos juntos com suas histórias de nariz. Mas foi durante uma das palestras, que todos no acampamento riram quando eu disse que se alguém quisesse saber como sua namorada seria em 20 anos, que apenas olhasse para a sogra. Não foi algo visando humor, e lembro bem de ninguém ter dito nada por alguns instantes, mas quando a filha da dona do obelisco respiratório suspirou em alta voz um “Ah não!”, ninguém conseguiu segurar as gargalhadas.

Uma mulher preparava um banquete para algumas visitas que ia receber. Preocupada com os preparativos, lembrou-se do tamanho do nariz do moço que vinha. Chamou seus filhos e alertou-os que não tocassem no assunto. Era muito grande. Não tanto quanto o da carioca, mas dominava o consumo de ar em qualquer que fosse o ambiente. Os meninos perceberam a preocupação da mãe e resolveram divertir-se às suas custas. “Que legal o tamanho do seu...” pausando em suspense - “carro!” E a mãe “Ufa!” ou então: “Quanto mede o seu... sapato?” Na mesa, foram várias as provocações sem nem um deslize, riso ou referencia à napa do homem. No final do jantar, aliviada por seus filhos não terem falado nada sobre aquela protuberância facial, oferecendo a mais um pedaço da sobremesa a mãe disse: “Você aceita um pouco mais de nariz?” Não sei pra quem dirigir meu “Oh moleque”...

O conceito de “politicamente correto” tem ajudado bastante o desenvolvimento da sociedade. Mas às vezes, eu sinto que há um exagero na forma de pensarmos e de agirmos. Hoje temos de evitar o uso de alguns termos para não ofender algumas pessoas. Há toda uma nova nomenclatura para descrever as diferentes etnias, crenças, convicções, deficiências e estilos de vida. Há também grupos que se formam mundo a fora para a defesa dos direitos de quem quer que possa ser prejudicado ou ofendido por sua individualidade coletiva. Escolhi o assunto de nariz grande porque ainda não achei um grupo de defesa dos narigudos. Não aceito racismo e nem preconceitos étnicos.  Não seria politicamente correto falar sobre obesidades, doenças ou deficiências. Seria cruel falar sobre os feios. Seria sexista falar de homens ou mulheres, à guisa de quaisquer argumentos possíveis. Detesto falar de pessoas de baixa estatura (oh moleque!) e, não é certo escrever jocosamente sobre atitudes que contrariam a Lei de Deus (vícios, desvios, traições, adultérios etc.). Tenho a impressão que há porem um grupo que parece diminuir-se ao longo dos anos. Um recente comercial de TV se refere aos homens (homens) como uma “espécie em extinção”.

Quando falamos sobre as diferenças entre homens e mulheres, é comum que as pessoas já tenham uma posição formada sobre seus conceitos e valores. Uns já assumem o tal do “politicamente correto”, outros talvez uma posição mais tradicionalista. Temo porem, que pouca gente realmente observa com honestidade os seus devidos papeis de macho e fêmea.

Muitos cristãos, tanto homens como mulheres, crêem tradicionalmente que os maridos devem amar suas esposas da mesma forma que Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Consequentemente crêem também que Deus designou o marido para ser a pessoa que toma as decisões finais nos assuntos da família. Muitos desses homens buscam o conselho da esposa, especialmente se não estiver bem informado sobre o assunto. Mas se houver divergências entre as opiniões, que o marido decidiria e sua esposa deve submeter-se de bom grado à sua autoridade decisiva outorgada por Deus. Ao pé da letra, vivem dizendo que o marido é o cabeça da esposa como Cristo é o cabeça da Igreja. A esposa recebe os benefícios da liderança e da proteção espiritual do marido. Se uma mulher permanece solteira, este papel é desenvolvido por seu pai ou por outra figura paterna. Essa é a estrutura que se diz acreditar como se fosse o ideal de Deus para a hierarquia familiar.

Muita gente lê e conhece bastante a Bíblia para argumentar diversas posições sobre a autoridade na família. Eles leram com entusiasmo o ensino bíblico que suporta o modelo patriarcal, mas não da mesma forma lida por autores que chegaram a uma posição teológica diferente. Na verdade algumas destas pessoas acham incrível afirmar que estuda as escrituras, e conclui algo diferente do seu próprio ponto de vista patriarcal.

Obviamente, eles acreditam que quem pensa diferente é apenas um bando de liberais que aderiram à cultura atual do “politicamente correto” ao invés de endossar o que claramente é o papel bíblico de Deus para as mulheres. Eu reconheço que o cristão honesto deve exercer pressão social para que os valores sobre a igualdade salarial, educacional, a experiência e a igualdade jurídica sejam iguais para ambos os sexos em todas as áreas da sociedade. A defesa dessa igualdade não acontece no estabelecer das cotas ou no rechaço de quem representa uma figura que em outros tempos possa ter usurpado seu papel. Quando declaramos as nossas posições políticas, sociais ou teológicas, devemos antes ter uma verdadeira compreensão das implicações de tal bandeira.

Não creio que aqui (Ataduras e Unguento) seja a arena para a discussão de direitos e valores. A minha preocupação é com tanta gente que se machuca no frigir da luta pelo poder. Seria mais fácil evitar o sentimento de injustiça que temos se primeiro compreendermos que Deus nos fez do jeito que fez: Narigudos, baixinhos, brancos, pardos, verdes, macho, fêmea. Eu acredito que o Espírito Santo pode confirmar a verdade que Deus revelou através de sua escritura para cada um de nós. Um processo de aprendizagem não-investigativo e míope faz uma triste acusação contra o pensamento cristão maduro. A acusação não é apenas a limitação de opções para as mulheres nos diversos ministérios, mas mostra que muitos, sem uma análise precisa das escrituras distorcem o que a Bíblia expõe. Por um lado, formando muitos machistas e do outro, homens enfraquecidos e preguiçosos.

Menino bacana, Miguel (Bacan, seu sobrenome) aprendia na escola sobre o funcionamento sociológico das formigas. Seu professor explicava aos aluninhos que as fêmeas trabalhavam ajuntando comida enquanto os machos, cuidando do formigueiro, descansavam. “Ai que vergonha!” exclamou o garoto pondo as mãos na cabeça. Ele sentiu pelos machos. 


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