“Mim” matando suavemente com suas palavras…




          Eu trabalhava num restaurante badalado, no centro de Boston. Dentre os colegas de lá, muitos eram brasileiros que, na tentativa de “fazer a América” (ficar rico), não desfrutavam da experiência internacional e nem tentavam aprender o inglês. Um rapaz, que lavava as panelas na cozinha, sonhava com a fama ao retornar para o Brasil. Hoje, ele até tem festas lá no seu apê... Numa noite bem movimentada, o jovem latino se preocupava mais com as suas rimas do que com as panelas. Entre passinhos de dança e gritos, viu-se encrencado com o entupimento do tanque. No desespero, sem falar a língua, tentava mostrar ao gerente, Ishmael, o que tinha acontecido. O chefe era gente boa. Preocupado apenas com o expediente e não com achar um culpado, gesticulou algo que ilustrava uma ferramenta para a desobstrução do ralo. Terminada a sessão de gestos e balbucias, disse em inglês “Do you know what I mean?” , você sabe o que eu digo? (do iou nou uoaraminho). O lavador dançante logo entendeu, e tão errado que deu certo. Ainda pra certificar-se repetiu a ordem: “Ah araminho! Boa ideia!”

          Contei essa pra um amigo, e ele me contou uma que, segundo ele, tinha acontecido com o primo do cunhado da sobrinha da sua empregada. Parece que num voo internacional o cara tinha ido ao toalete e ao sair encontrou-se com uma senhora que dizia algo mais ou menos assim: “Hab ottough glaeiddh?” Sem compreender o idioma, disse a ela: “Eu me sorry, no espico inglês!” – A senhora mais uma vez: “Hab ottough glaeiddh?” “Ai ai ai , como é que eu vou saber o que esta dona tá me falando...”  – pensou em voz alta. Então, a mulher, percebendo que ele a havia confundido por "gringa", disse mais detalhadamente num dialeto nordestinez: “Meu filho! Preste bem atenção! Você já botou o glade aí no banheiro pra espantar o odor?”

          Como essas estórias, eu devo ter mais umas 100 ou 10. Leciono inglês e sempre falo da necessidade de aprender o idioma. Oh moleque! É engraçado quando não é trágico. Mas sinto que muitas vezes fingimos não entender algo que ouvimos ou lemos. Principalmente quando se trata do relacionamento que temos com Deus e a maneira que atendemos ou não à sua Palavra.

          Em Marcos 7.14, Jesus disse: "Ouvi-me, todos, e entendei." Ainda hoje as pessoas dispensam o simples ensino da Bíblia sobre questões morais (como a homossexualidade, divórcio ou aborto) ou sobre a salvação do pecado ou a igreja, porque dizem que o ensino é muito confuso ou difícil de entender. Por que as pessoas não entendem? Não é porque a Bíblia não seja tão clara. Jesus espera que as pessoas entendam os seus ensinamentos, e Paulo disse: “Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor." (Veja também 2Timóteo 3.16, 17). Mas alguns não entendem porque não querem entender. Estão mais preocupados em talvez... fazer a América? – a “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus...” (Mateus 22.29). Outros deliberadamente não aceitam os ensinamentos das Escrituras e trocam seu conteúdo por algo do seu próprio agrado. “E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mateus 15.9).  E ainda: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.” (Mateus 7.15).

          Davi aprendeu duas línguas ao mesmo tempo. Mamãe falava com ele em inglês desde neném. O verdadeiro bilíngue ouviu uma canção no rádio (Killing me softly, de Roberta Flack, 1973), e ficou desesperado, tadinho. Não entendia a metáfora, e pensou que alguém estava realmente matando a cantora com suas palavras. A moça que ajudava a mamãe não compreendia a razão das lágrimas, e, por mais que se explicasse a letra da música, como ter certeza da lógica de uma criança. Criança não pode falar inglês (deve ter pensado). É como ver crianças estrangeiras e dizer: “Olha como é inteligente, cinco aninhos e já sabe falar inglês!”

          Bem, essa lógica é parecida com a racionalização que fazemos quanto às verdades bíblicas que nos incomodam. Quando Pedro escreve às igrejas da dispersão, diz sobre Paulo: “...ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.” (2Pedro 3.16). Aqui, Pedro não está reclamando daquilo que Paulo escreve. Pedro está reclamando de quem se faz de “João sem braço” e finge não entender as Escrituras.

          O Portelinha estava colorindo uma tulipa (é coisa do avô, aposto!) e eu fui elogiá-lo. Disse (em inglês): “Bonita a sua tulipa!” – Lucas me respondeu (também em inglês): “Isso não é uma tulipa, é uma rosa!” Caí na besteira de tentar provar que estava certo. Porque... argh! Depois de uns 20 minutos de papo furado, cansado de guerra, o meu querido moleque encerrou a discussão: “Talvez na sua língua isso se chame tulipa, mas em inglês é uma rosa!” O quê? Estávamos falando em inglês, eu nunca falo com ele em português. Um dia vou apresentar Shakespeare para ele.

          A maneira de uma criança concatenar o seu raciocínio é a mesma de um adulto, sem muito conhecimento de um assunto (como no caso da moça que cuidava do meu irmão). Muitas vezes as pessoas não entendem a Bíblia simplesmente porque não gostam do que ela diz. “Porque o coração deste povo está endurecido, de malgrado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.” (Mateus 13.15). Quando a Bíblia não diz o que algumas pessoas querem ouvir, concluem que é tudo muito confuso e realmente não entendem isso mesmo!

Quem quiser agradar a Deus deverá “Pesquisar as Escrituras diariamente” com a mente obediente, como os crentes de Bereia em Atos 17.11. Eles eram honestos. Para agradar a Deus, temos de saber a verdade, e que a verdade é encontrada na palavra de Deus. A efetividade da revelação de Deus é plena. Não há falha na comunicação. O que é ensinado então pode ser compreendido pelo inquiridor honesto. Quando leio algo na Bíblia que difere da minha estultícia, logo me lembro de que Deus está certo e eu estou errado. Para o meu conforto, repito as palavras do salmista:

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em guardá-los, há grande recompensa.
(Salmos 19.7-11)

Daniel

Comentários

  1. Amigo,
    Seus unguentos servem para atenuar as dores de meus machucados. Faz mais de mês que minhas ataduras estão secas e ávidas por novo unguento.
    Seu enfermo necessita do seu bálsamo para suavizar as dores e sarar as lesões do corpo de um velho guerreiro incansável, mas abatido por longas e solitárias batalhas.
    Jeremias 8.22 Acaso, não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médico? (...)
    Não assino por absoluta certeza da desnecessidade em te dar certeza da autoria, pois um amigo conheçe o outro.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas