E o jogo?





          Durante o jogo, alguém lia um livro, mas tudo bem, ela nunca gostou de futebol. Mas sempre gostou de nossa companhia. Tinha um que jogava paciência no I-pad. Tinham dois que (em dois outros aÍ-péedes), liam as postagens no face. Um chegou atrasado. Outro especulava os danos ou lucros (depende de quem pensa), na economia, política, educação, saúde, sociedade ou até mesmo na ecologia. A maioria do pessoal lá incluindo eu que andava pra lá e pra cá, até tinha esperança de uma virada. Hora deitado no tapete, hora de pé quase pulando, sofremos juntos alguns (7) rápidos momentos emocionantes: 1-0, 2-0, 3-0, -4-0, 5-0, 6-0, 7-0, e finalmente, mais pernicioso ainda, o 7-1. 

         Resolvi escrever sobre o meu relacionamento com o futebol. Algo que, por vergonha talvez, eu nunca falei a ninguém. Nasci corintiano. Só depois de adulto virei “a casaca” e passei a ser torcedor do União São João de Araras. Não preciso discutir quem ganha e quem perde. Sou simpático a todos os torcedores. Quando menino, eu só joguei bola na rua porque era dono dela. E mesmo assim, sempre acabava no gol. O Davi tinha um pastor alemão (ai que vergonha) que um dia comeu minha bola de capotão. Nem liguei.

          A minha briga com o futebol começou bem antes. Foi lá em Bocaina (pertin de Jaúr) que passei a não gostar da gorduchinha. A seleção brasileira chegou à Copa de Mundo de 1982 como franca favorita. Liderado pelo grande Zico, considerado o melhor jogador na época, e com grandes craques como Júnior, Falcão e Sócrates, o Brasil vinha apresentando um grande futebol nos amistosos e na eliminatória. No primeiro jogo na Copa de 1982 o Brasil começou perdendo com grande frango de Valdir Perez, porém virou no segundo tempo com gols de Sócrates e Éder. No segundo jogo, contra a Escócia, o Brasil começou mais uma vez perdendo e virou para 4x1. No terceiro jogo os brasileiros, mais uma vez arrasadores, liquidaram a Nova Zelândia por 4x0. Na segunda fase o Brasil disputou um triangular com Argentina e Itália. No jogo contra a Argentina o Brasil foi mais uma vez arrebatador em venceu com sobras a equipe de Maradona por 3x1. Porém, contra a Itália, aconteceu o desastre. O Brasil, que parecia invencível, foi derrotado pelos pragmáticos italianos por 3x2. Resolvi (Na minha humilde e abalizada opinião) que não assistiria mais futebol.

          Na copa de 86, estava nos Estados Unidos, e não dei muita importância pros jogos. Na escola, joguei e fiz sucesso, mas no meu coração eu sabia que naquela época os americanos não conseguiam driblar nem mesmo eu.

          Em 90, fui saber que tinha copa quando um red-neck (caipira americano) me perguntou se o Maradona conseguia bater no Mike Tyson. Eu nunca tinha ouvido falar do Maradona. Aí que ele me falou que o Maradona era o artilheiro da seleção brasileira. Ainda me explicou que a capital do Brasil era Buenos Aires na Argentina, campeã do mundo de soccer (o que?). Só depois de três meses alguém me falou que o no ultimo jogo da copa, o Brasil teve muitas oportunidades desperdiçadas, até que aos 35 minutos do segundo tempo, em um conta-ataque liderado por Maradona, Caniggia marcou o gol da vitória da Argentina.

          Em 94, também não assisti nem um jogo. Pra que? O Brasil bateu um bolaço e ganhou a copa e eu perdi. Resolvi que iria vestir a camisa e que na próxima copa eu ia torcer. 

          Já menos moleque, na copa de 98 eu me enchi de empolgação pra ver a seleção jogar. Acho que o Zagallo é que tinha que ter tido essa empolgação. Consciente que a seleção que havia conquistado a Copa do Mundo 1994 não havia empolgado, apesar do título, o técnico montou uma equipe mais ofensiva. Na primeira fase o Brasil garantiu a classificação logo nos dois primeiros jogos com vitórias de 2x1 sobre a Escócia e 3x0 sobre o Marrocos. No terceiro jogo, já classificada, a seleção brasileira perdeu de 2x1 para a Noruega. 

          Nas oitavas-de-final uma vitória fácil de 4x1 sobre o Chile de Salas e Zamorano. Já nas quartas-de-final o jogo foi mais difícil, e o Brasil passou pela Dinamarca com 3x2 e gols de Rivaldo (2) e Bebeto. A semifinal contra a Holanda foi o jogo mais disputado. No tempo normal empate de 1x1 com gol brasileiro de Ronaldo. A prorrogação foi emocionante, mas terminou sem gols. Nos pênaltis, o Brasil venceu por 4x2 com grande performance do goleiro Taffarel.

          Esperava-se que a final contra a anfitriã França fosse um jogo tão emocionante quanto à semifinal contra a Holanda. Porém, o que se viu foi uma seleção brasileira totalmente dominada, que não ofereceu perigo contra a França, e foi derrotada por 3x0. Grande confusão e polêmica cercaram os bastidores deste jogo devido ao fato de Ronaldo, o principal jogador brasileiro na ocasião, ter passado mal com convulsões no dia e ido ao hospital fazer exames. Inicialmente cortado para o jogo, Ronaldo foi ao estádio depois do hospital e acabou jogando. Muitos culpam o treinador Zagallo por ter escalado Ronaldo mesmo tendo convulsões no dia. Até hoje não se sabe ao certo o que aconteceu com o Ronaldinho, nem o quanto esse episódio contribuiu para a derrota do Brasil. Só sei que eu, desapontado decidi não ver mais futebol.

          A seleção brasileira, depois de vários anos conturbados e uma difícil eliminatória, teve uma participação brilhante na Copa do Mundo 2002. Na primeira fase o Brasil se classificou logo nos dois primeiros jogos com vitórias de 2x1 sobre a Turquia e 4x0 sobre a China. Venceu a Costa Rica por 5x2. Brasil e Bélgica 2x0. Inglaterra vencido por 2x1. Nesse jogo Ronaldinho Gaúcho, que teve uma ótima participação, foi expulso, desfalcando a seleção na semifinal. O adversário foi a Turquia. Sem Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo teve que atuar mais recuado, e não foi tão bom como nos jogos anteriores. O resultado foi um jogo difícil com vitória de 1x0 para o Brasil. Na final, a confiante seleção brasileira enfrentou os grandes rivais alemães e sagrou-se pentacampeã com vitória de 2x0, gols de Ronaldo. E de novo, quando o Brasil ganhou, eu perdi.

          Depois de ter perdido a vitória em 2002, resolvi novamente ver o Brasil em 2006. Esperava finalmente ver um futebol bonito e envolvente, que me faria reatar com a bola. Vi um time apático e apagado com alguns jogadores fora de forma, Ronaldo Roliço, digo, Fenômeno. Na primeira fase o Brasil passou com 4 vitórias: 1x0 Croácia, 2x0 Austrália e 4x1 Japão. Nas oitavas-de-final os brasileiros se classificaram com 3x0 sobre Gana. Já nas quartas-de-final a seleção brasileira foi totalmente dominada pela França e perdeu por 1x0. O gol francês saiu de uma cobrança de falta, na qual cada brasileiro marcou um adversário, exceto Roberto Carlos (do União São João de Araras) que ficou de cócoras ajeitando a meia e deixando Henry livre para marcar. Oh Moleque! 

          Aí eu parei! Não vi a copa de 2010 e não me arrependo. Por um motivo ou outro, agora em 2014 assisti com esperança e achei que ia pela primeira vez ser testemunha ocular da bravura e disciplina de um monumento futebolístico chamado CBF. Vi um gigante fazendo corpo mole no tapete da sua própria sala de estar (Mineirão) e causando vergonha à sua pátria mãe gentil. Foi tão constrangedor que até “as visitas” ficaram com vergonha por nós.  E no final de tudo, diz que o problema é psicológico

          Milhares de brasileiros estão experimentando emoções como raiva e vergonha. Como no futebol, intimamente lutamos com diversos sentimentos que sem cuidado e sem Cristo só causam ferimentos e lesões. Estes prejudicam os relacionamentos interpessoais somados ás soluções caseiras, homeopáticas ou diabólicas envenenam a alma e leva à morte, não só física, mas espiritual. Pior ainda do que estragara vida familiar é o rompimento do seu relacionamento com Deus. Muitos são salvos, redimidos e se dispõe a servir a Deus, mas trazendo de bagagem, uma serie de emoções tóxicas e corrosivas. Parece que o mais forte destes sentimentos é a vergonha. De onde vêm esses sentimentos prejudiciais e como nos livrarmos deles? Tudo começou no jardim do Éden e pode acabar no amor de Jesus.

          A história de Adão e Eva é conhecida. Aconteceu e foi verdade, mas mesmo se alguém disser que o relato histórico de um ex-ministro de estado do Egito e chefe do novel governo de Israel é um conto, eu deixo de lado a questão só pra não envergonhar ainda mais  quem ta perdendo o jogo (como os alemães fizeram no segundo tempo com os brasileiros). Digamos então, que da mesma forma que Adão e Eva se viram nus e tiveram vergonha, hoje, nós também, ao sermos despidos daquilo que pensamos ser direito adquirido, sofremos a vergonha da nudez. Não é vergonha por ter cometido alguma falta. É vergonha pelo flagrante.

          Antes do pecado Adão e Eva eram absolutamente e totalmente sem vergonha (no melhor sentido literário e não no jargão). Não havia necessidade de máscaras (ou folhas de Figueira, que seja). Eles não sofriam emocionalmente, espiritualmente ou fisicamente e muito menos no “psicológico” como se diz no futebol. Eles tinham uma verdadeira intimidade transparente com seu criador. 

          A história é conhecida. Eva estava lá como quem não quer nada e a cobra foi lá falar com ela. Aí ela comeu a maçã e ofereceu pro marido. O bobo foi e comeu também desobedecendo ao Criador. Ambos caíram em desgraça (Genesis 3.10-18). Não é assunto de brincadeira. De repente, o pecado rompeu a estrutura de imagem e deformou a resolução da semelhança com Deus. Sem o lastro eterno e infalível de Deus, o casal e sua prole ficaram fisicamente vulneráveis (morte do corpo). O desempenho profissional também foi afetado. Agora, trabalhar (funcionar) ficou difícil e causava até suor. O nível de qualidade de vida foi reduzido a quase nada do que era antes. Viram-se pelados e destituídos do relacionamento com Deus. Isso é o que significa vergonha.

          O pecado abriu a porta para muitas emoções tóxicas e eles rapidamente procuraram maneiras de esconder seus recém-encontrados sentimentos negativos. Seus disfarces emocionais rapidamente tornaram-se parte de suas personalidades. Milhares de anos mais tarde o mesmo ciclo de esconder o que é vergonhoso se - repete com os crentes e não crentes.

          A vergonha do flagrante é apenas pela exposição. Remorso é a vergonha do não arrependido. Sabemos que a vergonha é parte da queda do homem. Mas o que muitas pessoas podem não perceber é que a vergonha é a raiz de muitas outras emoções como, ódio, arrogância, medo, culpa e egocentrismo. Também faz com que muitos relacionamentos sejam rompidos. 

          O caminho do amadurecimento produz decisões mais sensatas e muito mais agilidade na forma de desempenhar as tarefas daquele que se dispõe a jogar. Como o atleta que se prepara para competir, também o cristão deverá permanecer inabalável mesmo nas jogadas mais arriscadas da vida. É certo que encontremos adversários hábeis e na maioria das vezes desonestos, mas entregar o jogo, trapacear e fazer corpo mole não são sinais de quem vestiu a camisa do time. Não fazem jus à escala de seleção (chamado especifico) e nem fica bonito.

          Na próxima copa do mundo vou assistir e torcer. A vitória tem um sabor especial, mas não essencial. No fim das contas, não é ganhar ou perder que vale na vida, mas como se joga.

Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas. 2Timóteo 2.5


Daniel


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