De direção e atoleiros




          Quem mora na cidade grande e só dirige em ruas asfaltadas não imagina o trabalho que dá quando o carro fica atolado na lama. Na roça, em estradas de chão, às vezes, basta uma chuvinha para que o caminho vire um atoleiro. Mas existem dicas de direção para que seu carro não fique encalhado por muito tempo. Aí vão algumas: o primeiro passo é, obviamente, tentar evitar que o carro pare em atoleiros, evitando as margens da estrada e seguindo as marcas de pneus dos que já passaram pela via, pois mostram que alguém já passou por lá, e que a terra já foi pisada por outro carro que não atolou.  Na maioria dos atoleiros, a lama está coberta de água, o que impede a visibilidade de qualquer buraco ou mesmo de onde a lama está mais funda.  O ideal é manter velocidade baixa (10 a 20 km/h) e usar primeira ou segunda marcha.  Bom, se você não conseguiu escapar do atoleiro e um dos pneus ficou afundado na lama, assim que a roda começar a girar em falso, não acelere o veículo. Isso vai fazer com que o pneu patine no sulco e afunde ainda mais.  A união faz a força. Se tiver gente por perto, peça ajuda. Pode ser que o carro saia facilmente usando a força de mais pessoas.  Se o pneu estiver atolado sem muita profundidade, cave um pouco na frente do pneu e coloque pedras, cascalho, galhos de árvore, o que tiver por perto, para que a roda pare de girar em falso e o pneu possa ter atrito para sair dali. Mas não acelere muito; normalmente, se isso for o suficiente, o carro sai em velocidade baixa.  Se pequenos objetos não funcionarem, procure uma madeira mais resistente, no formato de uma tábua, e enfie debaixo da roda atolada. Acelere devagar e veja se o carro dá sinais de sair do atoleiro.  Nos dois passos anteriores, uma empurradinha para ajudar o carro a sair é fundamental. Enquanto uma pessoa empurra o carro por trás, outra pode tentar levantar um pouco o carro, ou até mesmo fazer um pouco de peso para ver se cria o atrito do pneu com os objetos debaixo da roda.  Outra solução é ter uma corda e outro veículo para puxar. Amarre a ponta da corda no eixo de veículo atolado e a outra, no carro que irá puxar. Acelere o carro rebocador devagar para esticar a corda e depois comece a dar pequenos trancos pra ver se o carro atolado se move. Cuidado para não acelerar demais e esquentar o motor do veículo que está puxando. Caso nenhuma das dicas funcione e se o carro continua atolado, busque ajuda de um veiculo mais forte. No atoleiro, não só somos impedidos de chegar ao destino desejado, mas às vezes impedimos a passagem de outras pessoas.

          Não só na estrada, mas na vida, há vezes em que parecemos atolados. Tem hora que o trajeto se torna tão difícil que, nos sentimos inertes e inaptos para jornada. Toda tentativa de movimento aumenta o calor da fricção e parece nos desviar do caminho. A vida é dura. Temos falha, fadiga, frustração e medos. Todos nós temos dores escondidas do passado. Carregamos ferimentos, cicatrizes de guerra e lixo emocional. Podemos ser espancados, desencorajados, deprimidos e decepcionados. Quaisquer que sejam os impedimentos, a raiz de tudo é o pecado. Estamos presos pelo pecado. Da mesma forma que é possível aprender a tirar um carro do atoleiro, é possível aprender a retomar a caminhada com Cristo. Deus quer restaurar as nossas almas.  Primeiro é preciso eliminar o peso da culpa. A culpa é como a sujeira do lamaçal que nos envolve.

Não me repreendas SENHOR, na tua ira, nem me castigues no teu furor. Cravam-se em mim as tuas setas, e a tua mão recai sobre mim. Não há parte sã na minha carne, por causa da tua indignação; não há saúde nos meus ossos, por causa do meu pecado. Pois já se elevam acima de minha cabeça as minhas iniqüidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças. Tornam-se infectas e purulentas as minhas chagas, por causa da minha loucura. Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo. Ardem-me os lombos, e não há parte sã na minha carne. Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração. Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta. Bate-me excitado o coração, faltam-me as forças, e a luz dos meus olhos, essa mesma já não está comigo. Os meus amigos e companheiros afastam-se da minha praga, e os meus parentes ficam de longe. Armam ciladas contra mim os que tramam tirar-me a vida; os que me procuram fazer o mal dizem coisas perniciosas e imaginam engano todo o dia. Mas eu, como surdo, não ouço e, qual mudo, não abro a boca. Sou, com efeito, como quem não ouve e em cujos lábios não há réplica. Pois em ti, SENHOR, espero; tu me atenderás, Senhor, Deus meu. Porque eu dizia: Não suceda que se alegrem de mim e contra mim se engrandeçam quando me resvala o pé. Pois estou prestes a tropeçar; a minha dor está sempre perante mim. Confesso a minha iniqüidade; suporto tristeza por causa do meu pecado. Mas os meus inimigos são vigorosos e fortes, e são muitos os que sem causa me odeiam. Da mesma sorte, os que pagam o mal pelo bem são meus adversários, porque eu sigo o que é bom. Não me desampares SENHOR; Deus meu, não te ausentes de mim. Apressa-te em socorrer-me, Senhor, salvação minha. Salmos 38

          Há quem tente negar a existência da culpa. Há quem tente esconder. Uns podem tentar justificar suas ações de forma que a culpa tenha menor peso. Podemos dizer, "não é grande coisa", mas sabemos que é. Se isso não foi nada porque ainda dói na lembrança? Por que não conseguimos esquecer? Por que não mudamos de estratégia? Minimizar não funciona.  Podemos racionalizar, dizendo: "Todo mundo faz isso", mas sabemos que isso não é verdade; todo mundo não faz isso. Mesmo se fizerem – não é certo. O mais comum que fazemos com a culpa é sofrer. Cuidadosamente nutrimos a culpa, alimentamos a dor e redirecionamos o rancor. Contra os outros e contra Deus. Há uma distorção na maneira como nos vemos, e na maneira como vemos os outros e a Deus, uma inversão total de valores. O que é pequeno se torna grande e o que é importante se torna invisível.  Em viagens de culpa, eu já até mesmo quis criar um novo sistema de crenças e valores, com uma nova teologia que reinventa e reconta uma nova história.

          A verdade mais básica é que Jesus Cristo já pagou por todos os pecados. Todo erro cometido já foi pago. O que foi feito, aquilo que ainda não aconteceu, todos os pecados já foram pagos. As palavras, os tropeços, a bagunça, os acidentes, os erros, as vaias, os deslizes, os desastres, os socos e ponta pés tiveram preço e pagamento. Com recibo e certidão de quitação na história. Nenhum psicólogo pode remover sua culpa. Ninguém pede desculpar alguém de seus atos. Mas o Senhor passou por cima daquilo que nos separava de Deus, por meio da doação da sua vida a cada um dos seus escolhidos. O bom pastor tem o poder de restaurar a sua alma.
"Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1João 1.9).
          Deus perdoa os pecados e remove a culpa.  Consequentemente, Deus alivia a dor.  É claro que ainda sofremos, mas não mais por remorso ou rancor. Sofremos ao ver outras pessoas sofrerem. Solidão, flagelos, doença, tristeza, perda e luto e cansaço. Mas Jesus prometeu alivio aos cansados e sobrecarregados.

          Rancores vêm quando seguramos a mágoa que alguém nos causou. Temos raiva dele e não queremos deixar de ter raiva. Mesmo que a ofensa tenha sido acidental ou até despercebida, queremos curtir a raiva. Então, nós desenvolvemos um rancor que é como lama nas engrenagens para nos impedir passagem.

          Aprender a sair do atoleiro não significa que nunca mais iremos patinar ou deslizar nessa nossa estrada. Mas ao enfrentar novos desafios, o conhecimento da estrada, da carenagem, do condutor e até dos atoleiros, experimentamos a maravilha e a aventura do chamado mais radical de toda história.

Daniel



Comentários

  1. Julio Cavalcante
    Que texto lindo Daniel, e reverberante sobre a culpa, algo que acontece nesse caminho, estou feliz em le-lo, estou honrado de te-lo como meu amigo aqui...Abração viu...

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  2. Já enfrentei vários atoleiros assim lá nas Minas Gerais. Belíssima reflexão.Carlos Martins

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  3. Tenho lido todas as suas mensagens. Estou amando; aquela da pele me levou a algumas lembranças de quando fomos a um leprosário:"Santa Marta". A de hoje me encantou. Formidável. Num atoleiro com um carro eu não faria exatamente nada, mas o resto da lição é real. Continue escrevendo. Abraços da tia que o ama muito, Lilian Nely.

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  4. Salve Pastor Daniel,
    Essa da Direção e Atoleiros foi 10.
    Abraços
    Francisco Prado Neto

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  5. Jubal Gonçalves Puxa! Postagem maravilhosa. Obrigado e parabéns ao Pr Daniel Gomes.

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