Mudança de árbitros




          Meu dedão direito é mais fino que meu dedão esquerdo. Quem me conheceu menino, deve lembrar-se de como eu fazia... Pimenta, aparelho, detergente, tapinha na mão, esparadrapo no dedão, brincadeiras, acordos.

          Num passeio corriqueiro em Araraquara, almoçávamos num restaurante chinês, e eu me lembro muito bem de quando mamãe propôs me remunerar... Foi assim: “Quanto que você gostaria de ganhar pra largar de chupar o dedo?” Sem perceber a boa oportunidade que a oferta trazia, respondi agressivamente por me sentir injustiçado: “Você não me compra com seu dinheiro!” – Repeti uma resposta que tinha ouvido na novela da telinha.  Oh moleque!

          Eu morria de vergonha de chupar o dedo. Neném que chupa o dedo até que tem seu charme.  Mas aos sete, oito, nove anos, a imagem de um menino chupando o dedo e enrolando o cabelo se torna ridícula. Esse vício continuou até 12 de junho de 1986. Ao mudarmos para o estrangeiro, resolvi me re-inventar. Decidi que na América, largaria o meu vício.

          Quase todo mundo confunde o termo vício. Para falar de vícios, é preciso primeiro entender o que é uma virtude. Uma virtude é um hábito de caráter ou uma qualidade humana adquirida, que permite alcançar a felicidade pessoal. Por definição, em seguida, virtude é uma coisa boa, uma "Excelência" do caráter humano. Não pode haver uma virtude ruim. Vício é o oposto — é um hábito que estraga a chances de alcançar a felicidade pessoal. Por definição, o vício é ruim; Não pode haver um vício bom. O problema é confundir costumes ou hábitos de consumo com pecados e práticas da maldade. A dependência de artifícios para satisfazer a carne é fruto da separação do homem de seu criador. A ira sentida no coração do soberbo não produz a justiça de Deus (Tiago 1.20). Fica mais fácil confundir vícios com adições, porque ao alvejarmos os usos e costumes dos outros, escondemos os nossos verdadeiros vícios e pecados mais obscuros. Por causa do legalismo e da falsa piedade, muitos de nós vivemos derrotados e destruídos. Essa imagem é mais lamentável e ridícula do que a de um menino chupando o dedo. Aliás, parece que tem muito crente hoje em dia chupando o dedo.

          Qualquer dependência depositada fora da pessoa de Cristo é escravizadora. Pensamentos como: “Eu queria conseguir mudar, mas não importa o quanto eu tente, não consigo” são mecanismos de defesa da nossa autoestima, que revela uma total insatisfação e rebeldia contra Deus.

          As nossas falhas e defeitos são mais denunciados na maneira de falar e agir em relação aos outros, atribuindo algum outro motivo ou inventando desculpas para o pecado alheio. "Projetamos" nossos próprios motivos ou maneiras de se comportar nos outros, mesmo que na realidade não possamos ter essas intenções ou nos comportarmos assim.

           Em "formação reativa", nos enganamos sobre nossos motivos para fazer certas coisas. Através de "repressão" podemos convenientemente esquecer as coisas que nos deixariam ansiosos ou desconfortáveis. Alguns de nós passam a vida condenando as diferenças de uma ou de outra maneira e se confundem ao fazê-lo.

          Tiago 1.8 fala sobre as pessoas que são vacilantes e instáveis em tudo o que fazem. Não de quem chupa o dedo, mas de quem responde à mãe com desrespeito. Não somente de quem cai da bicicleta, mas de quem costuma roubar a bicicleta dos outros. Não dos difamados, mas dos difamadores. O apóstolo Paulo, tendo um dilema, disse: "o mal que não quero fazer – isto eu continuo fazendo. Que miserável homem que eu sou! Quem vai salvar-me deste corpo de morte? Deus seja louvado – através de Jesus Cristo nosso Senhor!" (Romanos 7.19, 24-25).
Paulo encontrou o segredo da vitória sobre o pecado, reconhecendo que ele era um pecador como todos os outros e que só Jesus Cristo poderia salvá-lo e dar-lhe um coração novo. A vitória completa sobre o pecado vem, quando, assim como Deus, abominamos o pecado. Não é mudança de hábitos, mas sim mudança de árbitros.

          Muita gente dá o seu testemunho de como conheceu a Cristo e de como a sua vida foi transformada, gabando-se da vitória na libertação de dependências físicas. Muitos foram entregues de álcool, drogas, violência, mau temperamento, palavrões e outros vários problemas. Isso é apenas outro disfarce para a salvação por meio de obras. 

          Tendo em conta esta experiência transformadora, por que então muitos cristãos vivem tão miseravelmente derrotados e continuam exibindo-se vitoriosos, acima de qualquer suspeita? Bem, ao receber a Cristo, nós recebemos uma nova natureza espiritual; é por isso que há transformação na nossa vida e temos poder (pela graça de Deus) sobre o pecado. No entanto, uma vez que estamos ainda na carne, ainda temos também a velha natureza, que pode afirmar-se depois que nos tornamos cristãos, se não seguirmos a Cristo de perto.

          Paulo insta aos efésios a odiar o velho homem, que é corrompido pelos seus desejos enganosos; para ser feito novo na atitude de suas mentes; e colocar no novo ser, criado para refletir a Deus em verdadeira justiça e santidade" (Efésios 4.22-24) Portanto, para ter a vitória sobre nossos problemas, precisamos não só de Jesus Cristo como Salvador, mas também como nosso Senhor – seguirmos a ele fiel e obedientemente.

          Os psicólogos nos dizem que é quase impossível que as pessoas controlem suas reações fisiológicas no momento em que algo acontece. Mas o controle pode ser atingido, definindo sua mente com antecedência sobre o que vai fazer e dizer em determinadas situações que podem surgir. Assim, se já foi condenado por um pecado ou se sofre a escravidão de um vício, você pode converter o seu coração e renovar a sua mente para reagir de uma maneira cristã, rompendo o circulo vicioso.

          A Bíblia ensina a não guardar rancor ou julgar os outros, mas a perdoar e amar as pessoas, pensar nas coisas que são boas; nossos pensamentos determinam nossas ações. Cristo ensinou que o pecado é concebido na mente, antes que se torne uma ação (Mateus 5.21-28). Amarguras, pensamentos lascivos e egoístas, avarezas e invejas, crueldades e ciúmes hostis e orgulhosos produzirão resultados dessas espécies. Mas entregar-se ao juízo do verdadeiro autor da vida significa estar feliz em toda e qualquer situação (Filipenses 4.11). Abandonando as coisas antigas em dependência total de Deus transformará o coração egoísta e revoltado num novo coração, que irá revelar ao mundo a glória de Deus (Filipenses 3.13-15). 

          Há uma promessa na Bíblia de que se alguém que se identifica pelo chamado do Senhor, verdadeiramente se humilhar, esse será visitado pelo Espírito de Deus e suas feridas serão saradas (2Crônicas 7.14). Maus hábitos e vícios são amarras que podem muitas vezes estancar sangramentos. Mas torniquetes causam gangrenas e  nos imobilizam. A mudança de árbitros produz a substituição de vícios por virtudes, e nos dão ataduras e unguento para vitórias e conquistas em todas as áreas da vida. Isso é a alegre e abundante vida de Cristo. 



Daniel





Comentários

  1. Olá, Daniel, tudo certo?

    Desde que você postou esse texto, tenho meditado nele, pois existem verdades profundas aqui...
    A partir do exposto, qual seria o limite entre um hábito e um vício (ou arbitro)? Por mais óbvia que pareça a resposta, me parece que muitos (e por que não eu?) se escondem atrás do primeiro para justificar o segundo e para cair na idolatria é um tropeço. Me lembrei daquele vídeo viral do youtube em que uma senhora diz que "consumia maconha há 40 anos e nunca se viciou!", haha...
    Desde já agradeço sua atenção!

    Abraço,

    William Teixeira

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