Os quatro relatos do Natal
A maioria das pessoas, quando pensam na
história de Natal, pensam em uma narrativa bíblica que inclui a santa família,
a hora da meia-noite, um celeiro, vários animais de fazenda, pastores, anjos,
homens sábios e uma cidade tranquila e pequena chamada Belém. Pode ser uma
grande surpresa saber que muitos dos elementos que as pessoas muitas vezes
atormentam como parte da história da natividade provêm de canções de natal e que
a verdadeira fonte desse evento, os Evangelhos no Novo Testamento, lidam com a
história do nascimento de Jesus em quatro maneiras muito diferentes, mas ainda
não contraditórias.
Cada um dos Evangelhos aborda esta história
com grande cuidado para comunicar suas respectivas imagens de Jesus e, ao
fazê-lo, poder comunicar suas mensagens únicas à sua própria audiência
particular.
O Evangelho de Marcos é possivelmente o
primeiro dos Evangelhos a ser escrito e, embora feito por Marcos, de acordo com
a tradição da Igreja primitiva, provavelmente representa a pregação e a
mensagem do apóstolo Pedro.
O Evangelho de Marcos não registra nada
sobre o nascimento de Jesus. Marcos inicia sua história de Jesus com o chamado
de João Batista na região selvagem. A primeira vez que vemos Jesus neste
evangelho é quando Jesus vem ser batizado por João.
Esta "narrativa de omissão" serve
o propósito único do Evangelho de Marcos. Marcos escreveu seu evangelho aos
romanos de hoje e enfatiza a mensagem paradoxal do serviço escondido de Jesus
como Senhor. Juntamente com os motivos secretos neste Evangelho, a omissão de
qualquer detalhe do nascimento de Jesus ajuda o leitor a entender que não é
importante de onde um servo nasce de qual família ele vem - é o serviço dele
que o define.
Para a sociedade romana no primeiro século,
profundamente dividida em classes sociais de honra e status, esta imagem
requintada de serviço escondido e radical por um com toda autoridade (Senhor)
chama a audiência deste Evangelho a emular o exemplo de Jesus que como Senhor
definiu sua missão e ministério por Seu serviço aos outros.
Mateus, em grande contraste com a
"narrativa de omissão" de Marcos, começa seu relato com uma elaborada
genealogia que coloca Jesus como um descendente do rei Davi e Abraão. Aqui já
Mateus mostra seu interesse especial e a audiência pretendida para o seu
Evangelho. Ele está escrevendo aos judeus e apresenta Jesus como um Rei, melhor
do que Davi e um profeta maior do que Moisés.
As narrativas de nascimento de Mateus se
concentram no papel de José, que é "um homem justo" nas palavras de
Mateus deste evento. José é contrastado com Herodes, um governante injusto e
perverso. Mateus toma grande cuidado para mostrar como o evento de nascimento
de Jesus cumpre as profecias feitas no Antigo Testamento e faz uso dessas
profecias para apresentar Jesus como um governador, o governante de Israel, um
príncipe e como o Filho de Deus.
É Mateus que nos fala sobre os sábios que
vieram adorar, trazendo presentes para um rei; os atos assassinos do rei ruim
Herodes; registra a jornada da sagrada família para o Egito (em grande parte
para ilustrar como a vida de Jesus espelha a do povo de Israel); e dos anjos
que nos sonhos dirigem José. Mateus, em seu poderoso relato de nascimento,
apresenta Jesus, em cumprimento das profecias e esperanças das Escrituras
hebraicas, como o Rei dos judeus que recebeu toda autoridade no céu e na terra.
Ele é Emmanuel, Deus conosco.
O Evangelho de Lucas é uma tentativa, em
suas próprias palavras, de colocar em "um relato ordenado" do
nascimento, do ministério, da vida, da morte e da ressurreição de Jesus. Lucas
escreveu seu Evangelho principalmente para um público gentio e se concentra nos
grupos tradicionalmente marginalizados e negligenciados nas sociedades mediterrâneas
do primeiro século. Assim, o Evangelho de Lucas está cheio de referências a
mulheres, crianças, grupos doentes, pobres e rejeitados, como os samaritanos.
Este foco especial e atencioso no
descuidado e rejeitado também apresenta no relato de Lucas sobre o nascimento
de Jesus. A narrativa de nascimento de Lucas é o mais longo de todos os quatro
Evangelhos e dá especial atenção ao papel do Espírito Santo e às mulheres na
história. Aqui o anjo aparece para Maria (não para José) e é Elizabeth e, mais
tarde, Maria que cada uma tem palavras de louvor e bênçãos gravadas. Lucas, no
seu foco humano, registra o status de "desabrigados" de José e Maria
em Belém, o cuidado especial dado ao bebê Jesus como ele nasceu e como um troto
de alimentação humilde se torna um berço.
Como para enfatizar ainda mais este foco
consistente dos pobres e rejeitados da sociedade, os anjos parecem pastores no
relato de Lucas e, não para os sábios ricos, privilegiados e poderosos, como conta
Mateus. São os pastores comuns que testemunham este evento glorioso e se
tornaram os primeiros mensageiros da paz e da boa vontade de Deus em relação
aos homens na terra.
A bela narrativa de nascimento de Jesus no
Evangelho de Lucas ilustra o ato cinemático completo de Deus em Jesus, nascido
entre os pobres e rejeitados, trazendo boas novas de paz e boa vontade a todos.
O Evangelho de João, possivelmente o último
do Evangelho a ser produzido, registra o nascimento de Jesus nos termos e na
linguagem celestiais, senão espirituais. Este evangelho, escrito pelo discípulo
que experimentou tal amor de Jesus, que ele se identifica como o amado por
Jesus, apresenta sua narrativa sobre o nascimento de Jesus como um segundo
"relato do Gênesis".
Para João, esse nascimento começou no Céu:
Jesus, a Palavra estava no princípio e era Deus. Tudo isso criado foi criado
através dele. João então descreve o nascimento de Jesus com linguagem poderosa:
"... e a Palavra tornou-se carne e habitou entre nós". João
escrevendo aos gentios de língua grega em todo o Império Romano explica que em
Jesus, o Verbo se torna carne e opta por habitar conosco e assim todos nós
fomos testemunhas de Sua glória cheia de graça e de verdade.
O Evangelho de João enfoca os atributos
divinos de Jesus. John exclama propositadamente qualquer menção de Maria,
Joseph e todos os outros personagens que Mateus e Lucas mencionam nas
narrativas de nascimento. John claramente comunica que esse nascimento é o
evento mais significativo na história do mundo. Deus se tornou carne e,
portanto, está brilhando Sua luz na escuridão, um evento que reflete a criação
dos céus e da Terra.
Os quatro Evangelhos no Novo Testamento
apresentam quatro imagens únicas e ainda complementares de Jesus - e isso é
evidente na forma como eles gravam o nascimento de Jesus: Mateus apresenta
Jesus como o Rei dos judeus digno de obediência e adoração; Lucas mostra um
Salvador humano que traz boas novas e libertação aos pobres, negligenciados e
marginalizados; Marque o presente de Jesus como Senhor que serve em segredo e,
assim, mostra uma nova maneira, livre da luta pela supremacia e status; e,
finalmente, João apresenta Jesus como Deus, que vem como a Palavra se torna
carne e isso brilha na escuridão para trazer um novo começo neste mundo.
Que possamos aproveitar esta época de
advento e época de celebração para redescobrir as poderosas narrativas de
nascimento dos Evangelhos do Novo Testamento.
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