Nossa Casa

Havia em nossa casa, uma plaqueta entalhada em madeira, com o versículo "Eu e a minha casa serviremos ao Senhor". Papai tinha trazido do nordeste e, tanto por sua beleza artística, como por seu significado profundo, papai e mamãe penduraram a gravura em grande evidência. Um dia até, uma pessoa que não conhecia as Escrituras, leu e sentiu-se lisongeado, pensando que "Senhor", se tratava dele mesmo... Uma gentileza, uma graça, um agrado... Eu me orgulhava de ser bom hospedeiro.

Nossa casa sempre hospedou muita gente. Amigos, parentes, desconhecidos e quem vinha com quartas e quintas intenções. Aprendi desde cedo, observando papai e mamãe desenvolverem seu ministério (que hoje adoto como meu), de receber pessoas para mostrar a graça e a glória do Senhor em um ambiente onde o perseguido encontre refúgio. Como no velho testamento, as cidades de Refúgio, e também a caverna de Adulão para Davi e seus valentes.

Sou grato a Deus quando me lembro também de quantas vezes fui hospedado na casa de outras pessoas. Parentes, amigos e companheiros de ministério sempre têm um lugar pronto pra filhotinho(s) de pastor.  Sempre viajando, sempre dormindo em colchões no chão, sofás, sofás que abrem, transformando-se numa cama, bi-cama, beliches, treliches e até mesmo um tapetezinho—lugares bem pensados e às vezes improvisados, que serviram de lar por uma noite ou mais. 

Casas e famílias ocupam um lugar muito grande nas escrituras — são mencionados mais de 2.000 vezes. Assim, evidentemente, são de grande importância na mente de Deus. As habitações dos homens, onde, pela intervenção divina, a escuridão e a distância moral entre o homem e Deus, são retratadas. Sempre gostei de dormir fora de casa... Era uma aventura... hoje eu vejo as bênçãos como efeito e observo os resultados dos movimentos de Deus em graça e misericórdia! Tantos amigos e irmãos que foram gerados numa simples noite de abrigo...

A luz dissipa as trevas (Êxodo 10.23); os tipos de Cristo podem normalmente ser vistos numa "nova oferta de carne" — se a oferta de carne perfeita (Levíticos 2); afetos, valorizando e abrindo espaço para a arca — aquele tipo de Cristo (2Samuel 6); a atmosfera de oração na casa de Elcana onde Ana buscou a presença de Jeová antes do nascimento de Samuel e gostava daquele que deveria ser o profeta cuja palavra foi estabelecida em Dan Berseba (1Samuel). 

Que desafio há na pergunta de Eliseu em 2 Reis 4! "O que não tendes em casa?" Como é grande a potencialidade do "pote de óleo" — a sombra da morte removido no fornecimento do "Espírito da vida" (Romanos 8.2). Certamente, em um sentido moral tornou-se a "mulher rica" do capítulo, possuída da habilidade de reconhecer as características de santidade e tendo o desejo de que tais assuntos sagrados tivessem lugar permanente em sua residência. 

Em um dia de idolatria e de partida de Deus, quando alguns sequer consideraram "mal servir ao senhor," as palavras de Josué ressoaram, alegrando o coração de Deus — "Eu e a minha casa, serviremos ao senhor" (Josué 24).

Outras tais instâncias podem ser encontrados na Palavra — Será que podemos observar essas características nas nossas casas? — uma atmosfera de oração sobre quais recursos de Cristo poderão ser desenvolvidos; onde ele próprio será consagrado carinhosamente no coração da "família" (cf. Obede-Edom); a palavra de Deus para seu povo, transportadas em oração desenfreada e inteligente e o aval definitivo da ajuda de Deus, sabendo que tudo será dedicado a seu serviço.

Muitas das referências à "casa" têm a habitação do próprio Deus em vista. Êxodo 15 introduz o pensamento de que Deus encontra sua morada no meio de um povo redimido, e sublinha-se o recurso de santidade que, necessariamente, caracteriza uma morada em todo o Pentateuco. Infelizmente, a história de Deus mostra  que as pessoas são incapazes de sustentar em suas mentes e corações o sentido de santidade devido à habitação-casa de Deus. As declarações proféticas de Ageu e outros produziram uma recuperação temporária — mas as palavras de Cristo em João  2 indicam o desprezo pela sua santidade. 

Aprendi no meu coração em Refúgio, que a casa de Deus é uma estrutura espiritual, construída em afetos daqueles reconciliados "a Deus em um só corpo pela Cruz" (Ef 2), "uma habitação de Deus através do espírito." É a "Assembleia do Deus vivo, o pilar e a terra da verdade", em que, mesmo em tempos de ontem, o "mistério da piedade" é consagrado nos corações daqueles que curvam-se em verdadeira sinceridade a Cristo como filho sobre a casa de Deus (1Timóteo 3). A casa de Deus, portanto, é vista como uma esfera de responsabilidade aqui, considerando que a casa do pai, tão bem falada pelo Senhor mesmo, é uma esfera de alegria celestial e favor imerecido.

No novo testamento, Lucas refere-se às casas em muitas ocasiões. Como médico ele sem dúvida estaria familiarizado com as habitações das pessoas, mas ele encanta ao descrever incidente após o incidente, os movimentos graciosos de  Jesus que retratam como ele entrou em casas de homens e mulheres. 

São preciosos os resultados de tais movimentos! Cura; ajuste; a introdução de uma atmosfera de simpatia, carinho e energia, além de qualquer comparação! A atmosfera febril da casa de Simão (Lucas 4) desaparece no seu toque, e todos os presentes foram autuados; assuntos do Ministério fariseu porque sentiram injustiça da parte de Cristo. Muito tem sido dito sobre o incidente na casa do fariseu (Lucas 7). Sublinhamos que somente a graça, o amor infinito, que triunfou sobre a descortesia, falso moralismo e condenação dos outros — características que não se limitam à casa de Simão, mas estão manifestamente presentes em cada mão hoje. 

Contemplar os movimentos do filho do homem, humilde, incompreendido, caluniado e ainda absolutamente preeminente em graça e amor, introduzindo uma paz que é imutável, transformando tristeza e desespero em duradoura alegria e produzindo uma resposta de afeição a ele mesmo. Abençoando de fato o coração ou habitação!

As circunstâncias que afetam a casa de Jairo (Lucas 8) multiplicam-se em torno de nós hoje. Morte, o resultado do fracasso do homem em responsabilidade, recaiu sobre tudo — até mesmo a mais bela! O mundo está cheio de lamento e choro, e a tristeza que permanece, aquilo que parece uma eternidade sem vergonha, até que Jesus entra naquela casa, aquele de cuja presença a morte deve fugir, o senhor da vida, o filho de Deus! A morte é apenas o sono; tristeza e lamentações devem cessar; a supremacia do poder (v. 54) e a ternura de simpatia e amor (v. 55) prevalecer; a novidade de vida e seu sustento continuam. 

Um espaço permite mas uma breve referência a Lucas 10, onde Marta recebeu o Senhor "em casa" com resultados que têm um significado moral claramente importante no tempo presente — ajuste em serviço, uma atmosfera de reclusão; uma percepção maior da glória de Deus na pessoa daquele que é "a ressurreição e a vida, tudo numa cena perfumada com a valorização do seu sofrimento de amor! Que alegria, que infinita bênção quando podemos abrir espaço para este precioso Cristo em nossas residências! É em sua pessoa que vemos, e na presença dele que respiramos o ar puro da ressurreição; nossos espíritos são preenchidos com sua graça e glória e nossos corações respondem ao seu amor. As alegrias do céu acima da terra!

A cena na casa do governante (Lucas 14) salienta a pobreza de pensamento e falta de apreço por Cristo na esfera da formalidade ritualística — mas envolve uma ocasião para a exibição de poder e compaixão no coração de Salvador e também , a sabedoria que traria o ajuste para o homem é moralmente desordenado de habitações. A bondade abundante de Deus na parte restante de Lucas e a revelação do amor divino em Lucas 15 seria objeto de um outro livro. A casa de Zaqueu em Lucas  19 foi grandemente favorecida. Ele desejava ver Jesus "Quem ele era". Abençoado com efeito para conhecer e apreciar o que Jesus fez; feliz o coração que deseja conhecê-lo por si mesmo. Salvação é consagrada em sua pessoa — que riqueza entrou naquela casa em Cristo!

"Em vez de noite será luz" foi certamente a experiência da casa de Cléofas (Lucas 24). Desespero e perplexidade foram transformadas em alegria radiante como reconheceram seus comentários quanto ao "Senhor ressuscitado;" a certeza da Ressurreição eliminou todas as dúvidas e medos; os passos foram vivificados em busca de seus interesses e vozes levantadas em seu louvor.

Existem muitas outras referências a "casas" nos evangelhos — mas se a verdade dos incidentes mencionados tiverem o seu lugar sem obstáculos em nossos corações hoje, se o próprio Cristo tiver indiscutível liberdade lá, que alegria e felicidade resultará. Também teremos condições de louvor e adoração a ele, aquele que diria nos seus dias: "as raposas têm covis, e aves do céu têm ninhos; Mas o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça não."

Condições de obtenção em algumas das casas mencionadas por Lucas em sua segunda carta fornecem instrução e encorajamento. Em Atos 8.3 um "conjunto" de características são vistas. O ódio de Saulo, motivou o fariseu, mas sem dúvida, havia alegria no coração de Cristo que "amava o ajuntamento". Em atos 10 Cornélio (que tinha um conhecimento elementar da verdade) é marcado pelo medo temente a Deus "com toda a sua casa". 

Graciosamente Deus tomou conta de corações dedicados, dando uma maior sensação de amor e verdade. Recompensa abençoada de fato! Alegria encheu a casa do carcereiro em Atos 16; e fidelidade ao Senhor marcou a habitação de Lydia. Recepção do testemunho trouxe perseguição à casa de Jason (Atos 17); A configuração e a atmosfera das casas de Justus e Crispo (Atos 18) são de profundo interesse — a fé do último resultando em um testemunho para o próprio Deus. Mais precioso o conteúdo da casa do Filipe (atos 21) — o evangelho foi estimado, profecia e a vontade de Deus. 

Não nos esqueçamos da casa de Minasom — o discípulo antigo (Atos 21) com quem Paulo e sua companhia foram se apresentar. Uma conotação de seu nome indica "diligência". Como aumentam os anos e muitas atividades não são mais possíveis, que o Senhor nos ajude diligentemente a fazer espaço para a palavra e o ensino do Apóstolo! Em Atos 28 Lucas fecha com essa deliciosa referência a Paulo na "própria casa ", que a atmosfera é perfumada com "aquelas coisas que dizem respeito ao Senhor Jesus Cristo" e seus direitos do Reino.

As casas de Estefano, de Áquila e Priscila, da Cloe, verdadeiramente um "pasto verdejante" nas áridas condições de Corinto e de muitos outros. 

"A arca do senhor continuou na casa de Obede-Edom.

E o senhor abençoou Obed-Edom e toda a sua casa."

A nossa casa já serviu de casa de culto, quando não tínhamos onde reunir com a igreja. E pode ser que um dia façamos isso de novo. Os quartos das crianças eram abertos e transformados em templo de culto. Nossos corações, e a assembleia dos santos são o tabernáculo, corpo que deve sempre ser preservado.

Semanalmente abrimos a nossa casa para receber a igreja local aqui no oriente. Estrangeiros em terras estrangeiras, que muitas vezes, estranhos ao Evangelho, são conhecidos por Deus e por nós em nossas orações. 

Nossos filhos aprendem a compartilhar a casa, mesmo quando movidos e privados de seus quartos. Ensinamos a diferença entre privacidade e intimidade. Ensinamos a hospedar e a tratar bem os hóspedes, pensando: alguns hospedaram até mesmo anjos...

Muitas vezes, recebemos também aqueles que nos querem mau. E sofremos o dano de sermos maltratados e difamados, depois de abrirmos a nossa casa. Mas tudo bem, tudo certo. A luz de toda a benção que vimos na Escritura, resolvemos que vamos continuar de portas abertas. Portas com dobradiças, e algumas vezes com fechaduras. Até mesmo pra proteger aqueles que conosco se refugiam.