Pastores ferozes e Pastores feridos

Sou pastor: já feri muitos e também fui ferido por muitos. De fato, minhas experiências mais dolorosas vieram de indivíduos que deveriam ter sido pais e pares. Eu já aconselhei muita gente e posso afirmar categoricamente que não canto essa canção sozinho. Felizmente, sou filho de pastor, e tive como pai o melhor exemplo que se pode encontrar de pastoreio. Ele vive e acredita no que prega. Eu tive um modelo consistente a seguir quando outros colegas e líderes me decepcionaram de maneira dramática. Ele também me ensinou a confissão de quando fui vilão. Por isso, sou muito grato...

Deixe-me ser claro, eu não estou falando de pequenas queixas do tipo: "eles não apertaram minha mão" ou "eles não apreciaram o meu potencial". Estou falando de situações legítimas, onde um pastor (ou ministro) era descarado, talvez até cronicamente ofensivo, pecador ou prejudicial. Tampouco estou falando de diferenças de liderança, choques estilísticos ou lapsos de julgamento menores, acredito na autoridade pastoral e na ousadia apostólica. Estou confortável em receber repreensão e correção de um pai ou par na fé. Também não me sinto ofendido ou difícil de agradar. Não me incomodo com a realidade de que os pastores são falíveis e humanos. Sou pregador, conheço bem as minhas próprias deficiências, por isso é fácil para mim dar uma folga para outros pregadores. 

Independentemente disso, o verdadeiro abuso espiritual ocorre; pessoas boas fazem coisas ruins, pessoas más mascaram-se como pessoas boas (Jesus repetidamente nos advertiu que isso seria comum), e erros são cometidos. Quando essas coisas acontecem, é natural querer dizer a alguém e a todos que quiserem ouvir. Eu sei que é tentador, mas é exatamente isso que você NÃO deve fazer.

Eu não estou defendendo enfiar a cabeça na areia. Busque conselhos piedosos, lide com o problema, mantenha um bom espírito, coloque-o no passado e mantenha-o lá. Como Paulo disse: “… esquecendo as coisas que estão para trás, e estendendo as coisas para o que está diante, eu corro para o alvo, para o prêmio do alto chamado de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3.13-14). Você foi ferido, desencantado, desapontado ou até mesmo prejudicado por um líder espiritual? Se sim, você está em boa companhia; Jesus foi crucificado por causa da influência de líderes religiosos. E, no entanto, foi Jesus quem nos admoestou a perdoar e seguir em frente (Mateus 5.44, Marcos 11.25, Mateus 18.21-22). Gostaria de abordar algumas razões pelas quais acho que devemos evitar reviver essas experiências em nossas conversas.

Essas conversas irão produzir, manter e nutrir uma raiz perigosa de amargura em seu coração. A amargura irá destruí-lo e transformá-lo na mesma coisa que o feriu em primeiro lugar. A maledicência semeia desconfiança no coração dos ouvintes. Uma analogia rápida: eu respeito muito os policiais, trabalhei por mais de uma década como delegado e capelão policial. Eu acredito que a maioria dos policiais são pessoas honradas. No entanto, conheci alguns que eram extremamente ruins como policiais e como pessoas, que deveriam servir e proteger e não o faziam. Não fico falando mal de policiais, porque quero que as pessoas respeitem os policiais. Haverá um dia em que eu explique que há algumas maçãs podres? Sim. Mas esse nunca será meu foco principal na conversa, porque no grande esquema das coisas, quero ensinar às pessoas que respeitem aqueles que os servem. Quando se trata de líderes espirituais, sou ainda mais cuidadoso. Não quero que minha família, incrédulos ou santos frágeis vivam sob a impressão de que a maioria dos pastores que pregam a verdade é ruim por causa de alguns pastores que pregam a má verdade (mentira).

Não é possível avançar com segurança quando você está constantemente olhando para trás. Conheci uma criança que tinha um estranho hábito de correr olhando por cima do ombro. Sim, chegava a ser engraçado ver o menino trombar em tudo e todos, causando todo tipo de acidentes e bagunças desnecessárias. (Oh moleque). Quando você fala constantemente sobre a dor vivida na igreja, desestabiliza o seu presente e põe em perigo o seu futuro.

Muitas vezes, e às vezes sem perceber, falamos sobre essas coisas com o desejo de causar danos ao perpetrador. Por mais compreensível que isso seja, vai contra tudo o que Jesus nos ensina sobre o perdão e o amor aos nossos inimigos e àqueles que nos maltratam. Deus não nos dá autoridade para exigir nossa própria marca de vingança, a vingança é do Senhor (Deuteronômio 32.35, Romanos 12.19).

Repetição constante de falhas pastorais pode criar uma desconfiança persistente em relação a bons líderes espirituais em seu coração. Apesar das falhas humanas, todo mundo precisa de um pastor. Se você não for cuidadoso, ficará tão desconfiado que nunca permitirá que um pregador piedoso tenha autoridade apostólica em sua vida. Se isso acontecer, o Diabo terá realizado o que ele se propôs a fazer.

Minhas observações pessoais sobre aqueles que insistem em fracassos ministeriais são de que isso se torna sua desculpa principal para justificar suas próprias más decisões. Eles desculpam seu mau comportamento por causa do mau comportamento de um ser humano finito. Lembre-se, nosso relacionamento com Deus não deve ser destruído por causa de um erro cometido pelos ministros. Deus não deixa de ser bom só porque um homem ou uma mulher nos feriu. Errado não se torna certo só porque alguém enlouquece. Davi examinou isso de maneira bela na sua experiência. O rei Saul estava disposto a matá-lo e, quando Davi teve a chance de tirar a vida de Saul, ele se recusou a tocar o ungido de Deus (1Samuel 24.10). Observe que Davi não deixou Saul matá-lo, ele se retirou da situação, mas não se vingou nem se afundou no nível de mau comportamento de Saul. (Podemos discutir a terminologia de "o ungido" em outra situação)

Ficar repetindo o histórico das feridas as mantém frescas. Não há dor como a mágoa. Pode ser terrível e devastador. Falar sobre isso vez após vez apenas impede que a dor se cure. Leve-a ao Senhor em oração, deixe-a no altar e deixe Jesus consertar seu coração partido.

Remoer a dor pode trazer um  julgamento de Deus em sua vida. Eu sei que este vai impactar algumas pessoas do jeito errado. E eu mesmo lutei com esse conceito. Na superfície, simplesmente não parece justo que nossa reação indevida ao pecado de alguém possa trazer julgamento para nossas próprias vidas. Um dos mais estranhos relatos bíblicos é a história de Noé se tornando indecente e intoxicado logo após sobreviver ao grande dilúvio (Gênesis 9.18-27). Quando Cão, seu filho, viu aquela situação, falou zombeteiramente sobre o pai com seus irmãos. O texto indica um comportamento de desrespeito por um homem que encontrou graça aos olhos do Senhor. Noé era um homem justo que estava em um estado temporário de terrível fracasso. Quando os outros filhos de Noé (Sem e Jafé) perceberam o que estava acontecendo, pegaram uma roupa e caminharam de costas na tenda do pai para cobrir sua nudez. Isso não foi uma negação do pecado; eles não estavam evitando o problema ou vivendo numa fantasia. Mas tinham tanto respeito pela história divina de seu pai que não abordariam a situação de maneira leve ou desdenhosa. Cão e seus descendentes trabalharam sob uma maldição dada por Deus daquele dia em diante. Ao lidar com as falhas espirituais de um homem genuíno de Deus, nosso comportamento importa.

Nós esperamos ser maltratados no mundo, mas muitas vezes somos surpreendidos - e nos ferimos - quando irmãos e irmãs em Cristo não nos convidam para a festa, falam pelas nossas costas, ou não estão lá para nós num momento de necessidade.

Escrevi alguns artigos com insights proféticos sobre como superar o sentimento de mágoa algumas semanas atrás e são consistentemente os artigos mais visitados do Ataduras e Unguento. Embora meus argumentos tenham sido de que precisamos morrer para nós mesmos, superar os sentimentos feridos - lidar com ofensas - continua sendo um tópico relevante na igreja ainda hoje.

Você foi ferido na igreja? O que você pretende fazer? Como você lida com isso? Deixa a igreja? - Essa não é uma opção Bíblica! Confrontar o problema? Enterrar o assunto? Atacar a pessoa que te machucou? Quando as pessoas são feridas por uma igreja ou membro da igreja, como esse conflito pode ser resolvido? O que a Bíblia diz sobre isso e como você faz isso na prática?

Leve para Deus

Quando um pastor ou qualquer pessoa o magoa, a primeira ação a ser tomada é a oração. A dor que você sente é real e fingir que você não está machucado não vai trazer cura. Às vezes, quando nos machucamos na igreja, gostamos de nos dizer que não temos motivos para nos sentirmos mal e que só precisamos superar isso. Metade dessa afirmação é verdadeira. Precisamos superar isso, mas nem sempre é verdade que não temos motivos para nos sentirmos mal. Se alguém está vomitando fofocas maliciosas nas suas costas e você fica sabendo, isso dói.

Não importa com que tipo de dor você esteja lidando, não se apresse ao confronto com o ofensor. Levai a Deus em oração. O Salmo 50.15 diz: “Invoca-me no dia da angústia”. Isso funciona para uma alma perturbada tão bem quanto para qualquer outro problema. Diga-lhe como você se sente e peça a ele para curar suas feridas. Pode ser que o Senhor lide diretamente com o ofensor e qualquer coisa que você disser só pioraria as coisas.

Ou pode ser que o Senhor lhe dê uma maneira elegante de explicar por que você se sente magoado. Se você levar a Deus sua causa, ele pode dar-lhe as próprias palavras para dizer ao seu ofensor (Lucas 12.12). E pode trazer convicção ao coração dessa pessoa quando você se aproximar dela com um espírito de humildade (João 16. 8).

Não retalie

Faça o que fizer, não revide. No Sermão da Montanha, Jesus nos ensina a dar a outra face (Mateus 5.38) e a amar nossos inimigos, abençoar aqueles que te amaldiçoam, fazer o bem a quem te odeia e orar por aqueles que maltratam você e o perseguem (Mateus 5.44).

Com isso em mente, não diga a todos o que alguém fez para ferir seus sentimentos. E não faça acusações contra aqueles que te machucam se você decidir confrontar o assunto. Em vez de dizer: "Você feriu meus sentimentos!", Diga: "Quando você fez isso, senti-me magoado" ou "Quando você fala assim comigo, sinto-me aborrecido". Aceite seus sentimentos porque são seus sentimentos. É muito possível que o infrator não tenha ideia do que disse ou do que o machucou - e talvez nunca quis machucá-lo. Se você se aproximar deles em humildade, visando a reconciliação, seu ofensor pode se apressar em pedir desculpas.

Deixe o Senhor Trabalhar

Pedro nos exorta que “acima de tudo, tenham um amor fervoroso um pelo outro, pois o amor cobrirá uma multidão de pecados” (1Pedro 4.8). Mais uma vez, seja guiado pelo Espírito Santo. Nem sempre é necessário ir a alguém que te magoa toda vez que fizer algo que você não gosta.

Pode ser que o Senhor esteja trabalhando em você. Talvez você seja muito sensível. Nós sempre precisamos checar nossos corações. A pessoa está realmente sendo prejudicial ou estamos olhando para ela através de filtros de mágoas passadas ou rejeição ou raiva que obscurecem a verdade? Pergunte ao Senhor. Ou pode ser que o Espírito Santo traga convicção ao abençoá-lo externamente com um coração de amor. Aliás, lembre se de que brasas vivas servem para aquecer aquele que está doente ou o bebê prematuro. Como numa incubadeira. Não é necessariamente a vingança, mas a entrega a Deus significa também a entrega de misericórdia.

Você não pode ser curado até perdoar

O ponto principal é o seguinte: não importa o quão errado seja seu ofensor, você tem de perdoar. O perdão não é para a outra pessoa - é para você. O perdão não justifica o que alguém fez de errado, nem significa necessariamente que o relacionamento esteja de volta ao ponto em que estava.

Se você não perdoar, acabará amargurado e ressentido e, em pouco tempo, acabará ferindo outras pessoas. O processo de cura não pode realmente começar até que você cuspa a isca da ofensa. Escrevi umas palavras num momento de dor que tive no passado, e deixo-as como conclusão:

Quando o sentimento de mágoa surge, 
o espírito de ofensa fortalece a dor, 
tentando o coração a guardar rancor. 
Mas a resposta adequada da alma à dor 
é sempre uma confissão imediata de perdão. 
A quebra do perdão atormenta a alma. 
Para a quebra da mágoa, tome à mente o perdão
Confesse sem pesar a mágoa, 
O caminho de Deus é o único que cura. 
Oração a Deus pela magoa,
Causada ou sofrida, confessada e finda
Ai então, de coração livre, e mente renovada,
Firme então, avante!
Amém.



Aviso rápido, este artigo não está se referindo a falsos profetas, falsos mestres ou aqueles que conscientemente vendem falsas doutrinas. A Escritura nos adverte claramente para expor e repreendê-los conforme necessário (Gálatas 1.6-9, Deuteronômio 13.1-4, Jeremias 14.14-16, Tito 3.10-11, 2Pedro 3.15-18). Tampouco estou minimizando a dor que pode advir de falhas de líderes espirituais. Muitas pessoas, como Davi, foram injustiçadas por culpa própria. Eu também percebo que há muitas pessoas que incorretamente percebem as más ações porque são rebeldes ou não podem ser ensinadas. Esse é outro problema para outro dia. Para registro, eu não endosso permitir que um ministro que está em pecado permaneça ativo no ministério.

Comentários

  1. Olha, eu fui excluído da igreja por conta deste tipo de coisa.
    Não duvido que eu tenha agido mal ou meramente de forma atabalhoada em qualquer momento do processo, mas, além da oração, minha postura foi primeiro de confronto (no sentido apropriado) pessoal e em particular, depois de avaliação da situação devido às contingências políticas locais (sim, às vezes o problema transcende o pastor e incide também sobre seus pares locais; eu gostaria de ter chamado dois ou três, mas, infelizmente, não aproveitaria) e por fim um "distanciamento seguro" (o que incluía carta de exoneração que mencionava os problemas sem que fizesse acusações pessoais).
    Ao receber a carta de exclusão, que, ridiculamente, acusava este "distanciamento seguro" como ausência total, cheguei a me alegrar pensando que era alguma convocação para resolvermos a situação.
    Após excluído, fiz uma "carta aberta" apenas para mostrar o erro no processo de exclusão em si, e para que nenhum irmão ficasse com a impressão de que minha saída era "culpa" ou intenção minha.
    Hoje estou de volta, ainda não como membro, sendo outro o pastor. Ainda lamento que haja esta situação não resolvida e temo por este comportamento que vi sendo repetido em outros lugares. Poisa nunca houve qualquer tentativa por parte do pastor em uma conversa franca e honesta sobre os problemas que ele próprio causava. Apenas sutilezas, dissimulação e covardia.
    Mas tenho minha consciência tranquila quanto ao que estava ao meu alcance fazer. Se fui atabalhoado, se agi mal em qualquer momento, estaria pronto a aquiescer e rogar perdão, mas nunca o soube. Não guardo mágoas nem alimento rancores, mas guardo preocupações, e as considero devidas.
    Enfim, esse resumo não se quer acusatório (no máximo, é um relato de constatações) nem quer remoer lembranças, mas, ainda que vagamente, dizer que o processo é sempre doloroso e tanto mais por não se vislumbrar uma solução no tempo.
    Por outro lado, este tempo de deserto em que vaguei sem um lar reformado me fez amar ainda mais a casa que eu jamais quis deixar. Faz-me olhar com esperanças renovadas ao novo pastor e ao futuro da igreja. E este olhar em retrospectiva faz maravilhar-me que mesmo em meio à abundância de nosso pecado Ele transborde graça!

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    1. Realmente a dor parece que sobra pra todo mundo... Infelizmente, algumas pessoas nao aprenderam a fazer o "mea culpa", e então, cada um constrói a sua muralha, e a fortalece. Obrigado por compartilhar a sua experiência. Sou grato a Deus por sua visão. Sabe, Roberto, eu também certamente errei em diversas situações, espero que as pessoas a quem eu machuquei, possam ser tocadas como eu também fui, e as que me machucaram, bem, agora estão perdoados, Deus tem mexido comigo! Obrigado por comentar aqui!

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