O que você precisa saber antes de se reinventar


Eu criava cobras. Quando eu comecei, eles eram apenas algumas cobrinhas inofensivas que eu peguei por uns trocados no Martin's Aquarium, um pet-shop local bem legal em Jenkintown, PA. Aquele era um dos meus lugares favoritos para passear e gastar o tempo e dinheiro na minha juventude. Ao retornar pra vida na roça, no sítio O Refúgio,  em Mogi das Cruzes, já adulto, casado e barbudo eu ainda queria criar cobras. Eu até fiz alguns treinamentos para poder me tornar um handler. Eu também tentei fazer alguns vídeos. Queria parecer e falar como Steve Irwin, o caçador de crocodilos ... (oh moleque!)

No galpão de ferramentas, dentro de aquários ou terrários, mantinha algumas das cobras mais perigosas conhecidas na América do Sul, jararacuçus, urutus, jararaquinhas, cascavéis e cobras coral. Eu brincava com elas. Para alimentar as serpentes, criava camundongos de laboratório como animais de estimação para meu filho. Engraçado, ele pôs o nome de Bernardo e Bianca, do desenho “The Rescuers” da Disney. O que ele não sabia é que as cobras comiam seus dois ratos de estimação e eu os repunha com os mesmos nomes... (Oh Moleque!)

Eu nunca tive medo de cobras. Era um tipo diferente de relacionamento. O sentimento parecia mais de respeito, admiração e espanto. Mas no fundo, no fundo, ao apagar das luzes, o que eu realmente gostava era a imagem que causava nos outros. Em vez de imprudente, eu pensei que estava sendo um cara fortão! E isso era muito importante para mim.

Uma vez, dirigindo para São Paulo, queria fazer uma entrega para o Instituto Butantã. Eu tinha um crotalus durissus macho (cascavel preta para os leigos), de quase 2 metros de comprimento. E de repente me dei conta: e se a bicha se soltar no meu carro? Como mencionei muitas vezes em meus artigos anteriores, há apenas algumas coisas que me assustam. E as cobras não são uma dessas coisas. No entanto, quando percebi o que poderia ter acontecido se a cobra saísse da caixa, decidi por um fim à minha carreira de domador de cobras. Aos trinta e três anos, eu precisava crescer um pouco. Era hora de perder a minha imagem e fazer algo para preservar minha vida! Mais ou menos como adaptar o que Jesus disse em Marcos 8.35 e 36 - apenas mudando as palavras “vida” para “imagem”, mas mantendo o pensamento: Porque qualquer que quiser salvar a sua vida(IMAGEM), perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida (IMAGEM) por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?

Às vezes, para mim (e acredito que para muitas pessoas também), manter uma imagem parece ser mais importante do que manter a própria vida. Em primeiro lugar, a imagem que queremos retratar não é a imagem real que as pessoas veem em nós. Para produzir uma imagem que impressionaria os outros, eu tive cabelos compridos, cabelos estilo Elvis, sem cabelo, brinco e estilos diferentes de roupa (sem tatuagens - muito permanentes). Muitas vezes tentei mostrar algo que não era. Pensei que, ao criar uma persona  “durona”, eu lucraria com a impressão que causava nas pessoas. Então, como brincar com cobras, os perigos de viver para mostrar o que nós pensamos que irá nos agregar valor pode acabar nos mordendo no traseiro! Essa atitude, além de queimar, ou melhor, totalmente incinerar o “filme”  muitas vezes envia as pessoas para sua espiral descendente, mergulhando para a morte. Aprendi com o livro de Atos que nossa imagem deveria ser o que Deus quer que sejamos. Que sua graça deve ser vista em nossas vidas e que sua libertação deve falar mais alto do que a nossa atuação.

Depois que Paulo naufragou (Atos 28.1-6), e seguramente se dirigiu para a praia na ilha de Malta, ajudou os nativos a fazerem fogo. Mal sabia ele que uma cobra venenosa estava aninhada na lenha (ele era cego? Provavelmente ...) que ele pegou, e "fugindo do calor, a cobra mordeu-o na mão". Ela não só mordeu e soltou, mas ela ficou pendurada na sua mão; o povo da ilha pensava, por essa imagem, que Paulo devia ter sido um assassino e estava recebendo seus justos castigos dos deuses. Mesmo que Paulo parecesse ileso depois de sacudir a cobra, eles ainda esperavam que ele caísse morto a qualquer momento - e quando ele não o fez, os supersticiosas malteses "mudaram de ideia e decidiram que ele era um deus".

Coisa interessante sobre Paulo, é que ele não estava tentando fazer uma imagem de si mesmo. De fato, seu ensinamento é o oposto disso:

“De alguém assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas. Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve” (2Coríntios 12.5,6).

“Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12.3).

No episódio da Ilha de Malta, os ilhéus mostraram o poder de uma cosmovisão que  interpreta a experiência - e como uma cosmovisão não-cristã muitas vezes não "faz a leitura certa". Aqueles que têm uma atitude não-cristã tentarão fazer uma imagem de si mesmos, seja reafirmando sua estultícia e seu conhecimento autoaprendido do mundo, ou tentarão se reinventar, a fim de impressionar os outros e influenciar pessoas para seu próprio benefício. Como o homem de meia-idade em crise que compra um carro esportivo ou uma motocicleta para mostrar o quão jovem ele é. Ser mordido por esse tipo de serpente realmente prejudicará sua saúde espiritual. E na maioria das vezes envia a imagem errada que você tinha em mente.

A menos que o Senhor abra nossos corações para entender a verdadeira imagem de Cristo, nenhuma testemunha e nenhuma mudança de forma, nenhum sinal miraculoso pode servir para mostrar a Cristo. Os malteses não estão sozinhos interpretando mal uma imagem (veja Atos 2.12-13; 3.12; 8.18-21; 14.11-18; 19.13-16). E hoje, se procurarmos mostrar algo que não somos, ou se tentarmos interpretar mal a imagem de outra pessoa, cairemos nessa mesma categoria que os malteses. Lucas, ao escrever os Atos dos Apóstolos, aponta para nossa idolatria ao descrever o movimento dos "sinais e maravilhas" como apenas para dar testemunho da grandeza de Deus em Jesus. Não para nós sermos considerados como deuses, mas para refletirmos a glória de Deus.

Se criar cobras, pular de pontes amarrados num elástico, comer um hambúrguer caro ou defender as dunas de areia do Kalahari tem mais a ver com “curtidas” ou “compartilhadas” nas mídias sociais do que com o prazer que obtemos dessas atividades, estamos fazendo isso pelas razões erradas. Tudo o que não é prescrito na Bíblia como um pecado se torna pecaminoso quando fazemos isso para impressionar as pessoas ou a nós mesmos. Em 1Coríntios 10.31, Paulo diz: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”. Fazer uma tatuagem, ou usar um terno e gravata de marca, escrever nossas postagens; tingir ou raspar o cabelo ou dar dinheiro aos pobres, devemos ter certeza de que o fazemos pela razão certa.

Então, qual é a razão certa, bem, eu não sei - Mas a razão errada é tentar mostrar algo que você não é.

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